Quais desafios ainda persistem na preparação para o atendimento de estudantes com deficiência, mesmo com os avanços históricos da educação inclusiva no Brasil

A construção de uma educação verdadeiramente inclusiva passa, necessariamente, pela formação dos educadores. Em especial, dos professores regentes — aqueles que atuam diretamente na sala de aula regular. São eles que estão na linha de frente do processo de aprendizagem de estudantes com e sem deficiência, e precisam estar preparados para lidar com a diversidade de forma acolhedora e eficaz.
Uma matéria publicada pelo diversa.org.br trouxe dados que mostram um cenário duplo: por um lado, há motivos para comemorar; por outro, acende-se um alerta. Embora o número de alunos com deficiência em classes comuns tenha crescido historicamente, a formação dos professores ainda não acompanha esse ritmo.
Inclusão nas salas cresce, mas a formação ainda é exceção
Em 2008, no lançamento da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI), apenas 54% dos estudantes com deficiência estavam matriculados em classes comuns da Educação Básica. Em 2023, esse número saltou para 91,3% — o que representa 1.617.420 alunos de um total de 1.771.430, segundo o Painel de Indicadores da Educação Especial do DIVERSA, uma iniciativa do Instituto Rodrigo Mendes.
Porém, entre os 2,3 milhões de professores regentes do país, apenas 6,1% possuem formação continuada em Educação Especial — o que equivale a cerca de 140 mil educadores preparados para atender de maneira adequada seus estudantes.
Essa discrepância mostra que a inclusão física nas salas de aula não garante, por si só, uma educação de qualidade. É fundamental que os educadores estejam preparados para atender à diversidade, com práticas pedagógicas inclusivas, estratégias adaptadas e compreensão das necessidades de cada aluno.
Por que essa defasagem persiste?
Segundo especialistas entrevistados pelo DIVERSA, uma das principais razões é que a Educação Especial, na perspectiva inclusiva, só começou a se consolidar como uma prioridade a partir da década de 1990. Antes disso, não havia políticas robustas de formação docente voltadas para a inclusão.
Além disso, a formação continuada ainda enfrenta problemas sérios: muitos cursos são teóricos demais, desconectados da prática real do dia a dia escolar. Isso compromete a efetividade das capacitações e desmotiva os professores.
Outro ponto crítico é que a formação em Educação Especial ainda não é vista como um pilar da qualidade educacional no Brasil — algo que precisa mudar urgentemente.
Caminhos para fortalecer a formação dos professores
Baseados em boas práticas e políticas públicas promissoras, algumas estratégias são fundamentais para virar esse jogo:
1. Fortalecer a formação inicial:
Os cursos de licenciatura precisam integrar a educação inclusiva como um eixo transversal, e não como um tema isolado.
2. Oferecer formação continuada de qualidade:
Cursos práticos, oficinas e especializações que dialoguem com a realidade escolar são indispensáveis.
3. Promover parcerias estratégicas:
Secretarias de Educação podem firmar acordos com universidades para ampliar o acesso dos professores a formações gratuitas e de qualidade.
4. Incentivar o trabalho colaborativo nas escolas:
A troca entre professores regentes e os profissionais do Atendimento Educacional Especializado (AEE) enriquece a prática pedagógica e fortalece o apoio ao aluno.
5. Monitorar e avaliar políticas públicas:
Avaliar o impacto das formações oferecidas e ouvir os professores sobre suas reais necessidades é fundamental para o aprimoramento contínuo.
O Compromisso da Fundação Álvaro César
Na Fundação Álvaro César, acreditamos que não há inclusão verdadeira sem formação adequada. Por isso, promovemos ações que fortalecem a prática docente inclusiva, como programas de capacitação, orientação social e apoio contínuo a escolas e educadores.
Porque para garantir que cada estudante tenha seu potencial reconhecido e desenvolvido, precisamos de professores preparados, acolhedores e comprometidos com a diversidade.
Juntos, podemos construir uma educação que seja, de fato, para todos.
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